Casa enlutada

insonia

A casa se fez silente
tão logo teu canto cessou

Em respeito à tua lembrança
trajaram-se de negro a mesinha,
o sofá e a estante dos livros

Em respeito à tua lembrança
não declamei poesia nem desejei existir,
vesti-me de preto à combinar com o resto da mobília

Em respeito à tua lembrança
afoguei na piscina o gato
e fiz um tapete do cão Labrador

Fiz um buraco no canto da sala;
Enterrei os restos do frango do almoço;
Quis ser os restos do frango do almoço;
Quis ser o buraco no canto da sala;

Quis ser o gato rijo afogado;
Quis ser o cão feito em tapete;
Quis ser a casa de negro vestida;
Quis ser a morte da tua canção…

Em respeito à tua lembrança
ficamos sós, eu, a triste casa enlutada
e tua incomparável ausência.

=Dom

Sexta Fera

Já foi a semana, Ana;
O que se fez do dia, Bia?

Não brinquei feito criança, dança;
Nem curti poesia, Lia.

Acabou-se a prosa, Rosa;
O que se fez do dia, Bia?

Não dancei quadrilha, família;
Nem roda cutia, Lia.

Hoje a sexta é fera, Vera;
Hoje não é dia, Lia.

Mas não tenha medo, Pedro;
Sem melancolia, Bia…

Semana que vem faremos tudo novamente…

=Dom

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Duma mente cansada em uma sexta ingrata…