Abolitio Criminis

Não quero que me imputes
crime por ter esperança.
Pois se a tenho, a tenho pra mim.
E não peço que a compartilhes
ou que dela sobrevivas.
Mesmo porque, a esperança
é um alimento escasso
e só pode alimentar
um homem por cada vez.

Suplico, no entanto, que
não afastes de mim, teus olhos.
Pois neles me apego qual
desgraçado à sua certeza.
Nisso não há crime,
nem agouro ou maledicência.

Esperança, minha senhora,
não é crime. Crime é não possuí-la.
E desse mal, juro, não sofro!
Ademais, são teus olhos, em mim,
a própria “esperança dos desgraçados”
E se não os tivesse, seria eu, apenas
um desgraçado sem esperanças.

Não tivesse esperanças, senhora,
tanto pior seria pra ti.
Afinal, quem daí cantaria teus olhos com
tamanha paixão, respeito e temeridade…

=Dom

Minha sentença

Calabouços
Claustrofóbicos,
Teus olhos

Masmorras
Onde das horas
Me perco

Círculos negros
Vagando no espaço,
No tempo
De quem não fui

Calabouços
De minha sorte,
Teus olhos,
Minha sentença.

=Dom

“Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e
poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu.
Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da
dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos
de ressaca? Vá, de ressaca.”
Assis, Machado de. Dom Casmurro

Mea Culpa

Por entre a turba,
enlouquecido, buscava
os olhos de minha morte.

Em mim, calado,
Vociferavam idéias infames.
Me faltava calma,
Me sobrava culpa.

O vil “modus operandi”,
sempre.
Ali, a metros de mim,
Meu destino…

Tocam, ecoam…
É chegada a hora,
“Mea culpa”,
Me entrego…

De minha sorte, o tempo
De minha morte, os olhos.

=Dom

Dialética

Alguma antítese
era, perdida.
Trazia na pele
A cor da noite
E nos olhos o meio dia.

Nunca soubera que,
De quando em vez,
Emprestava-me o corpo
Para ser inspiração.

E inspirava (…)
Tornava-me lições de poesia.

A folha, o livro digital,
Supunham-me poeta.
Mal sabiam que os versos voavam.

Não era poeta,
Eu não criava.
Nas linhas lógicas,
Eu transcrevia.

Era, a antítese,
A fonte de todas
As palavras.

=Dom