Vassalos do Tempo

Quisera o amanhã chegar-se no hoje
Para na fenda do tempo encontrar no espaço
Teus olhos perdido no nada que fui

O tempo, senhora, é de si mesmo carrasco
E o espaço, uma mera substância da poética
metafórica da vida essencial

Nós, os vassalos das coordenadas,
remimos no espaço o tempo que nos domina
– somos do tempo escravos –
E no espaço, timidamente, exprimimos nossa
Performance do Mouro de Veneza,
ou da Bahia, ou da cidade que nos melhor convir

O espaço, criança, é o palco de nossos dias
e o tempo faz às vezes do gordo birrento
que decide quando é hora das cortinas se fecharem,
das luzes se apagarem e da platéia seguir-se
aos aplausos esparsos e de pouco entusiasmo…

=Dom

Etimologia da selva

De como um velho perdeu um porto e
um porto ganhou um velho para chamar de seu…

Um taxista me contou, e os taxistas sempre sabem das coisas, que o nome desta cidade nasceu da supressão dum adjunto adnominal restritivo de posse.

Dizia que, antes de Porto Velho ser conhecida, havia um rio, um velho e um porto. O caso é que o velho morava solitário próximo ao porto, e sempre que os viajantes desejavam atracar por estas bandas, usavam a expressão: “- vamos ao porto do velho”. A medida que as barbas do velho cresciam a expressão se propagava entre os barqueiros, e por fim, quando o velho jazia sem barbas e sem espírito a expressão se eternizou.

Como no norte, semelhantemente ao nordeste, há um enorme senso de urgência no falar, tudo precisa ser comunicado com o menor emprego possível de palavras. E, por respeito as leis da eficiência, foi-se cortando tudo o que não era essencial – cortou-se o “do”. O velho, que “in memoriam”, já não se importava em ser lembrado, deixou de existir também na expressão, perdeu seu porto e o porto, que de velho não tinha nada, ganhou um “velho” para chamar de seu.

Depois de toda esta confusão, quem agora ostenta as barbas brancas é o Porto, que já não é mais porto, mas cidade. Do velho ninguém mais lembra. O rio segue seu curso caudaloso e o “do” que foi suprimido, ficou na história, afinal, quem mesmo precisa de um adjunto adnominal restritivo de posse!?

=Dom