Casa enlutada

insonia

A casa se fez silente
tão logo teu canto cessou

Em respeito à tua lembrança
trajaram-se de negro a mesinha,
o sofá e a estante dos livros

Em respeito à tua lembrança
não declamei poesia nem desejei existir,
vesti-me de preto à combinar com o resto da mobília

Em respeito à tua lembrança
afoguei na piscina o gato
e fiz um tapete do cão Labrador

Fiz um buraco no canto da sala;
Enterrei os restos do frango do almoço;
Quis ser os restos do frango do almoço;
Quis ser o buraco no canto da sala;

Quis ser o gato rijo afogado;
Quis ser o cão feito em tapete;
Quis ser a casa de negro vestida;
Quis ser a morte da tua canção…

Em respeito à tua lembrança
ficamos sós, eu, a triste casa enlutada
e tua incomparável ausência.

=Dom

Poema triste

Faz tempo que
não moro mais
na minha rua

Nem crianças,
nem velhos.
Nenhuma viv’alma,
nem uminha!

Nunca sei pra onde fui
Nunca sei pra onde vou
Nunca sei pra onde moro

Eu sou o poema mais triste
para compor numa quarta-feira
e quando for quinta
o sol de quarta ainda estará no céu

Faz tempo que
não moro mais
na minha rua
Faz tempo que não
sei onde morar

Sou uma casa
sem portas, janelas
ou trancas que se possa
forçar para que entre a luz

=Dom