Vassalos do Tempo

Quisera o amanhã chegar-se no hoje
Para na fenda do tempo encontrar no espaço
Teus olhos perdido no nada que fui

O tempo, senhora, é de si mesmo carrasco
E o espaço, uma mera substância da poética
metafórica da vida essencial

Nós, os vassalos das coordenadas,
remimos no espaço o tempo que nos domina
– somos do tempo escravos –
E no espaço, timidamente, exprimimos nossa
Performance do Mouro de Veneza,
ou da Bahia, ou da cidade que nos melhor convir

O espaço, criança, é o palco de nossos dias
e o tempo faz às vezes do gordo birrento
que decide quando é hora das cortinas se fecharem,
das luzes se apagarem e da platéia seguir-se
aos aplausos esparsos e de pouco entusiasmo…

=Dom

Palavra Crua

Poesia é palavra nua vestida em gala
É palavra crua em pêlo, pele e cetim
É sexo sagrado entre artista e linguagem
É sentido escroto estampado em marfim

Poesia é rota de sentimentos
Impressa no léxico a ferro e facão
É o louco voar que se guia nos ventos
É o fogo e a água em um só turbilhão

É a criança que morre e nem chega a nascer
Fotografia do olhar atento de um cego
É o berço indigente do rico que nasce

A pobreza abastada do pobre que sonha
É a arte na veia do triste que escreve
É a morte na vida é o sangue em canção

=Dom