Minha sentença

Calabouços
Claustrofóbicos,
Teus olhos

Masmorras
Onde das horas
Me perco

Círculos negros
Vagando no espaço,
No tempo
De quem não fui

Calabouços
De minha sorte,
Teus olhos,
Minha sentença.

=Dom

“Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e
poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu.
Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da
dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos
de ressaca? Vá, de ressaca.”
Assis, Machado de. Dom Casmurro

Mea Culpa

Por entre a turba,
enlouquecido, buscava
os olhos de minha morte.

Em mim, calado,
Vociferavam idéias infames.
Me faltava calma,
Me sobrava culpa.

O vil “modus operandi”,
sempre.
Ali, a metros de mim,
Meu destino…

Tocam, ecoam…
É chegada a hora,
“Mea culpa”,
Me entrego…

De minha sorte, o tempo
De minha morte, os olhos.

=Dom

Sumiu-se o desgraçado

Não tinha estrelas, o céu.
Jazia numa escuridão estranha,
Quase achei que fosse noite.

Não era noite, apenas faltava-me o sol.
Embrenhara-se por entre as nuvens e sumira
Saudades do desgraçado.

Mas de todo, a maior dor não foi sua falta.
Latejava-me a alma, de fato
o escuro que ainda estava por vir.

=Dom

Dialética

Alguma antítese
era, perdida.
Trazia na pele
A cor da noite
E nos olhos o meio dia.

Nunca soubera que,
De quando em vez,
Emprestava-me o corpo
Para ser inspiração.

E inspirava (…)
Tornava-me lições de poesia.

A folha, o livro digital,
Supunham-me poeta.
Mal sabiam que os versos voavam.

Não era poeta,
Eu não criava.
Nas linhas lógicas,
Eu transcrevia.

Era, a antítese,
A fonte de todas
As palavras.

=Dom